- Hey Lice! Tudo bom? - ela me puxou para a rodinha de garotas - Estamos falando sobre as novidades da escola! Sabia que a Lucia Mcroy, a tal inglesa que veio pra cá, ficou com aquele cara do futebol a tarde quem me contou foi...A partir dai meus olhos se perderam o foco no resto do longo corredor e eu simplesmente escutava ela falar, mas na realidade não a ouvia. O sinal bateu e todo o grupo de garotas estéricas se dispersou e eu e Lux seguimos juntas para a aula de Artes que ia acontecer no galpão cênico. Conforme o restante da turma ia chegando eu ia ficando mais tensa. Meus nervos palpitavam, se é que isso é possível, dentro de mim e eu comecei a achar que ele não viria. Assim que a Profª com cara, jeito, pose e voz de bailarina, Helena entrou na sala eu quase perdi todas as esperanças. Se ele demorasse mais 5 minutos os inspetores não iriam deixa-lo entrar e ele teria de voltar para casa. Sendo que isso não podia acontecer; eu tinha que falar com ele.
Começamos com a expansão do teatro no Brasil e foi-se seguindo a medida que os tópicos eram passados. Me virei para pedir um dos clips reservas da Lux para poder juntar toda a papelada de trabalho que estava amontoada no meu caderno impedindo que minha letra, que já não era muito boa, ficasse aceitável e assim pudesse continuar copiando. A profª interrompeu a explicação mas eu não dei atenção pois ainda estava esperando Lux achar o tal clips dentro da sua grande mochila, até que ouvi uma rápida e pequena repreensão da bailarina lecionadora:
- Dez minutos atrasados! Não sei como você conseguiu entrar. Deve ter dado uma desculpa muito boa - então ela riu fracamente- Qual é o seu nome?
- Ricardo, professora. Ricardo Céflis.Olhei para trás como se alguém tivesse puxado meu cabelo com muita força. E da mesma forma que minha cabeça iria doer se estivessem feito isso ela doeu. Meus olhos queimaram e eu olhei para ele. Então ele veio... Tudo seria resolvido e ficaria bem! Ainda fuzilando suas costas com os olhos vi que ele se acomodara de forma que desse para me ver, mesmo de longe. Voltei rapidamente meu olhar para o quadro branco e completamente preenchido agora com nomes de atores e atrizes de sucesso e até de uma banda de rock pela qual não sabia o motivo de estar ali.
Assim que o sinal tocou corri para o lado dele e dei um tapa em seu ombro. Ele se virou para mim com uma expressão de compaixão, longe de uma de alegria, ou ao menos satisfação em me ver. Fiquei ainda mais tensa.
- Oi Ricardo, tudo bom? - ele balançou a cabeça em resposta sem mudar e nem falar nada; arrisquei - Será que eu poderia falar com você. É rápido.
- Desculpa mas não dá. Tenho que resolver umas coisas na secretaria da escola que ainda estão pendentes. Quem sabe outra hora.E com essa 'deixa' ele saiu pela porta do galpão indo em direção do corredor de acessos me deixando sozinha com aquelas 'artes' penduradas nas paredes de forma mal colocada. Sai para a aula de Português cortando raivosamente as pessoas em meu caminho até chegar a sala no maior prédio da escola. Me escondi de Lux que agora estava em um novo grupinho de meninas para que ela não tivesse a curiosidade em saber sobre minha demora e minha cara. (CONTINUA...)